
Entre pedinchar prendas ao Pai Natal e adorar o Menino Jesus, há
uma certa diferença. De geração e de educação. Luísa Ducla Soares resolveu juntar estes dois
protagonistas e o resultado foi um livro divertido, crítico mas também
enternecedor. As ilustrações de Maria
João Lopes acompanham bem a atmosfera e vão para lá do que é escrito.
Uma avó e uma neta estão num centro comercial e, enquanto uma se vai enervando
com o consumismo, a outra deslumbra-se com a perspetiva de tirar uma foto com o
Pai Natal. Arrastada até “ao
presépio, onde um garotinho nu, deitado nas palhas, estendia os bracinhos para
quem passava”, a menina argumenta: “Ó avó, se gosta tanto de bebés, compre-me o
Nenuco, que tem roupas lindas.” O Menino Jesus escutou a
conversa e, à noite, pensou porque “todos tinham roupa para se
agasalhar menos ele”. Uma injustiça, é certo: “Fazia anos e os outros é que recebiam presentes?”
O Pai Natal não queria aceitar que jamais se tivesse lembrado de dar uma prenda
ao Menino Jesus. “Meteu a mão no saco enorme que
trazia sempre consigo e tirou de lá um fatinho branco. Vestiu-o ao menino,
calçou-lhe umas botinhas e, por fim, enfiou-lhe um gorro azul na cabeça.”
Um sucesso. Para o presépio e para o negócio no centro comercial. “Vendemos
fatos iguais ao do Menino Jesus”, anunciava o Espaço Bebé. E o “milagre”
estendeu-se à Virgem Maria, ao S. José, às boutiques e às lojas de desporto. Se
a menina escolheu depois tirar a foto junto ao Pai Natal ou ao Menino Jesus,
não se desvendará aqui. Mas todos ficaram satisfeitos. É o que se espera do
Natal. Não?
(Texto divulgado na página Crianças da edição do Público de 22 de Dezembro 2012)